Por
Antonio Carlos Camargo
Há 15 anos criando pássaros, venho observando e dando cada vez mais importância para certas patologias que ocorrem nas "patas" dessas aves.
Considero as "patas" dos pássaros um dos segmentos mais sensíveis e vulneráveis, por estarem sempre expostos a riscos, desde seu desenvolvimento no ninho, até a fase adulta.
Quantos "campeões" em potencial foram desclassificados em concursos por problemas nas patas, dedos e seus anexos.
Quem ainda não levou excelentes exemplares para concurso com esperança que os juízes não observassem um "defeitinho" nas patas, num dedo, numa unha ou uma patologia por mais leve que fosse e os "derrubassem da mesa"?
Pois é, desde que os filhotes nascem, já estão correndo risco de lesões nas patas; seja por enrolarem, pequenos fios do ninho nas patas, ou unhas, que quando não observado pelo criador, podem provocar necrose de parte envolvida (desde uma unha até amputação de toda a pata).
Temos ainda um problema muito sério na canaricultura que é o "canibalismo". São os pais que tem o "vício" da debicagem em seus filhotes, causando lesões em unhas, dedos ou até a pata toda, deixando sequelas graves.
Por volta do sétimo dia de vida vem o anilhamento dos filhotes, onde pode ocorrer vários traumas locais, desde uma simples escoriação a qual pode se tornar uma lesão grave, porque ai pode ser a porta de entrada de micro-organismos patógenos como fungos e bactérias piogênicas. Pode ainda ocorrer fraturas ou luxações e dedos no ato de colocação da anilha.
Considero um dos momentos mais importantes no manuseio dos filhotes a hora da colocação da anilha. Esta deve ser colocada com técnica correta, na época certa, com calma, com assepsia, para não lesar o pássaro. Se, por acaso, ocorrer qualquer outro imprevisto, devemos lavar com água corrente e passar álcool à 70% ou qualquer outro antisséptico e, logo em seguida usar "Nebacetim pomada" no local.
Alguém já parou para pensar qual é a proporção do peso de uma anilha ou até duas, em relação ao peso de um canário? Ele vai carregá-la no pé para o resto de sua vida. Pois é, uma anilha pesa mais ou menos 0,07 gramas, enquanto que um canário de cor adulto pesa mais ou menos 20 gramas.
Fazendo uma analogia com o ser humano: imagine você (70 Kg) com uma pulseira de mais ou menos 250 gramas, um pouco acima do seu tornozelo, o tempo todo, não tirando nem para tomar banho...
Porque tudo isso? Porque essa anilha desliza o tempo todo no pé desse pássaro conforme ele se movimenta, causando assim um atrito, que muitas vezes chegam a lesar o local e ser mais uma porta de entrada para micro-organismos patógenos. Pode ainda, pelo atrito no local da anilha, causar inflamações com dor, calor, rubor e edema local, deixando o pássaro impaciente; e, na tentativa de tirar essa anilha, com o ato de bicar, pode agravar a situação, causando uma infecção no local pelos mesmos mecanismos já citados.
Quem de nós criadores não viu, quando chegam as anilhas, muitas delas estão coladas e interligadas ainda umas as outras pela sequência da numeração, talvez pela tinta ou outra causa na fabricação das mesmas. Pois é, nessas junções de umas com as outra, muitas vezes sobram áreas "ásperas" e até cortantes (por menor que seja) para o pé do pássaro que é sensível, essa anilha com as bordas "ásperas" vai deslizar, aumentando o atrito local, causando assim escoriações que com o tempo podem se tornar lesões.
Voltando com a analogia com o ser humano, imaginem o quanto incomoda uma unha encravada, um espinho no pé, um calo num dedo, uma micose interdigital; o que dirá se for uma infecção no pé?
Ainda no ninho temos o problema de "filhote único" que pode deixá-lo com sequelas em dedos e patas. Por isso é que deixamos ovos com "filhote único", para que ele possa ter apoio, evitando assim defeitos nas patas ou pernas.
Apesar de tudo isso que falamos das anilhas, infelizmente é um mal necessário, porque até agora é a única forma de identificar pássaros. Esperamos que com a evolução da tecnologia, apareça no futuro uma forma menos traumática para identificarmos nossas aves, que tanto nos fazem bem.
Algumas fêmeas, ainda na tentativa de fazer a limpeza de seu ninho, identificam a anilha no filhote como um corpo estranho e tentam expulsá-la, e por vezes, jogam o filhote junto para fora do ninho; e quando não observado pelo criador, o filhote fica sem anilha ou acaba morrendo na grade de fundo.
Logo após a sua saída do ninho, os filhotes podem sofrer traumas nas patas por quedas, porque ainda não tem habilidade nem equilíbrio suficiente para voar como adulto.
Alguns outros acidentes podem ocorrer ainda ao longo de sua vida como: enroscar os dedos, as patas ou a anilha em grades, portas, molas de portas ou acessórios de gaiolas ou de voadeiras, chegando a ocorrer lesões graves ou até amputações desse segmento ou de membros.
Quantos de nós criadores ou os tratadores, nos criadouros, por algum descuido ou a pressa do dia a dia, puxamos a grade das gaiolas ou voadeiras, na hora da limpeza e lesionamos patas de nossos pássaros. O mesmo ocorre também com divisórias de gaiolas e de voadeiras.
Temos também o problema de poleiros e grades de fundo das gaiolas e de voadeiras, os quais são grandes "vilões" que alojam micro-organismos e transmitem através dos pés, várias doenças. Por isso devemos trocar e lavar grades, pelo menos uma vez por semana e trocar e lavar poleiros pelo menos a cada dois meses, e usar substâncias antissépticas à base de amônia quaternária ou ainda cloro.
Com as aves adultas de nosso plantel, todo ano cortamos unhas quando necessário e temos que ter o máximo de cuidado e calma para não seccionar a veia que a irriga.
Ao manusearmos nossos pássaros, temos que fazer com muita técnica, calma e com cuidado, para não causarmos iatrogenia.
--
Fonte: Revista Brasil Ornitológico - ano XXI | nº 86 | Fev - Mar e Abr 2012 - Pág. 48
Nenhum comentário :
Postar um comentário