Bouba Aviária vacinar ou não?

Por
Antonio Carlos Lemo
Bruno Pietrolongo

Já tem a alguns anos que esse tema vem à baila durante o período de reprodução, pois, sempre algum criador iniciante (e também o experiente) é pego de surpresa com a bouba disseminada em seu plantel. Como não sabe do que se trata, acaba desistindo de criar canários domésticos por "achar" que o pássaro é muito frágil e "morre à toa". Esse fato se deve porque a constatação da doença só ocorre quando os sintomas já estão em estágio avançado, com pássaros apresentando patas necrosadas e até com a morte de algum indivíduo. Esse problema aconteceu em meu criadouro por volta de 2006, e eu já não era criador iniciante, talvez por esse motivo não tenha parado de criar. Corri atrás de uma solução rápida, consultei alguns criadores com mais experiência e me deparei com a notícia de que o caso em meu criadouro poderia ser bouba aviária.


Definição


A Bouba das aves. também conhecida por epitelioma contagioso, bexiga, pipocas, varíola aviária, difteria aviária, é uma moléstia infecciosa, altamente contagiosa, caracterizada pelo aparecimento de erupções na pele e mucosas das aves. É disseminada em todo o mundo, atacando todos os tipos de aves domésticas e também selvagens. A bouba pode atingir aves de qualquer idade, sendo mais comum e grave nas jovens, apresentando-se sob duas formas: epiteliomatosa cutânea e diftérica mucosa. A forma epiteliomatosa cutânea é a mais comum em nossos canários e frequentemente causa as lesões características na região periocular, ao redor do bico e nos dedos e patas. A forma diftérica não tem manifestação externa visualizável, as lesões aparecem normalmente no sistema digestivo e respiratório das aves (lesões internas) é mais difícil de ser diagnosticada e normalmente tem evolução mais grave e letal.
Causada por um Poxvírus do gênero Avipoxvirus, alguns dos maiores vírus conhecidos, têm formato de tijolos e são vírus envelopados, ou seja, envoltos por um invólucro proteico. Como a maioria dos vírus grandes e com invólucros, são facilmente destruídos por muitos dos desinfetantes comuns.

A pele é uma das principais portas de entrada do vírus e a transmissão ocorre via mecânica, como por exemplo, através da picada de insetos vetores como o pernilongo, moscas, mosquitos, piolhos, etc, ou pelo contato direto com ave doente.

A infecção natural por Poxvírus já foi relatada em aproximadamente 60 espécies de aves silvestres representando cerca de 20 famílias diferentes, bem como aves de gaiola, parecendo que todas as espécies aviárias são susceptíveis a doença (Berchieri & Macari, 2000).


Como diagnosticar?


O diagnóstico da forma cutânea é normalmente clinico através da inspeção das lesões que são muito características. Existem, no entanto, diversos laboratórios que oferecem serviços aos criadores e realizam exames de PCR que identificam o DNA do vírus a partir de uma amostra de fezes. Nos casos mais graves da forma diftérica, pode ser necessária a presença de um veterinário especializado para realizar necropsia de aves que vieram a óbito para coleta de material para exames mais específicos.

A falta de vitaminas do complexo B resulta em lesões que podem ser confundidas com a bouba. A deficiência de ácido pantotêico/biotina cria uma dermatite generalizada; a pele do pé racha e formam-se crostas nos cantos do bico, ao redor dos olhos e das narinas.


Tratamento


Não existe tratamento especifico, ou seja, não existe um medicamento capaz de matar o vírus como se faz com antibióticos e bactérias. O tratamento empregado nestes casos visa evitar infecções secundarias por bactérias oportunistas, são usados antibióticos por via oral e anticépticos tópicos como clorexidine, violeta genciana, iodo, etc, diretamente nas lesões. A administração de suplementos vitamínicos é importante para auxiliar o sistema imunológico no combate do vírus promovendo a cura da ave. As vitaminas também têm papel importante na cicatrização e regeneração das feridas.


O que fazer em plena época de reprodução, com filhotes nascendo, ovos chocando?


Não tive alternativa senão a vacina que nesse caso agiu mais como tratamento do que como prevenção. "Não há tratamento curativo, porém as aves doentes podem ser aliviadas com a remoção das crostas volumosas e cauterização das feridas com tintura de iodo ou nitrato de prata. As placas diftéricas podem ser lavadas com soluções fracas de permanganato de potássio (MALAVAZZI, 1995). Uma suplementação com vitamina A pode ser útil (RUR.EY 1999)".

O emprego conjuntamente de vitamina A e C pode ajudar na cicatrização dos epitélios e pomadas antimicrobianas nas feridas.


Prevenção


Importante sempre ressaltar que a melhor atitude contra a bouba está na prevenção com algumas medidas simples como a instalação de telas finas nas portas e janelas do criadouro de maneira que os insetos vetores da doença não consigam ter acesso aos pássaros. A desinfecção de gaiolas e transportes, comedouros, bebedouros e qualquer outro acessório que seja levado para outros criatórios ou exposições, etc. A tão famosa quarentena deve de fato ser sempre realizada quando adquirimos aves de outros criadores ou mesmo quando levamos nossas aves para participarem de exposições. O método mais eficaz na prevenção da "bouba" é sem duvida a vacinação desde que seja feita com a vacina de pombo e de maneira certa devendo ser aplicada com agulha apropriada na membrana alar (aquela pele bem fininha que as aves têm na asa, quando abrimos a asa de um canário se pode visualizá-la)

Membrana Alar


O que faço hoje


Eu não sou veterinário, o que descrevo é apenas uma conduta que tenho feito com resultado positivo. Como já tive esse problema e ele é recorrente, tenho adotado um procedimento profilático que tem apresentado uma boa eficácia para o problema da bouba dentre outros comuns na canaricultura!

Após a limpeza habitual, promovo uma desinfecção geral e frequente do criadouro e utensílios, lavando-os e nebulizando, através da mais leve nuvem de vapor possível, com Virkon S (monopersulfato de potássio), 10g por litro de água. Tudo é nebulizado. inclusive os pássaros. Esse procedimento deve ser feito o ano inteiro de uma a três vezes por semana. A indicação do produto é de um litro de calda para cada 10m3, três vezes por semana.


Vacinação


Todas as aves do criadouro são vacinadas com a vacina Bouba aviária (VÍRUS POMBO FORTE) encontrada em qualquer casa agrícola, esta deve ser mantida resfriada. Um vidrinho é suficiente para cerca de 200 pássaros, se sobrar, descarte conforme instrução do laboratório. O período para vacinar, indicado pelo fabricante, é durante a muda.


O local de aplicação


Uso agulha de 2 pontas com reservatório (caso não encontre, coloque 10 cm de linha em uma agulha comum e embeba na solução para aplicar). Para vacinar é preciso transpassar uma membrana transparente que fica na asa (membrana alar - vide fotos), não tem sangue e o pássaro não sente nada ali, mas, cuidado ao segurar a asa aberta, se ele se debater, solte a asa. caso contrário ela pode quebrar.



Segure o pássaro com a parte de dentro da asa voltada para cima, é simples, mas. precisa da ajuda de algum colega para aplicar. Se for necessário, repetir a vacina após 7 dias, conforme orientação do laboratório.

Essa é minha experiência, simples, mas. eficaz no que diz respeito a problemas relacionados com a suposta bouba aviária.

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Fonte: Brasil Ornitológico - Ano XXII | nº89 | Nov - Dez/2012 e Janeiro 2013 - Pág. 43 e 44.

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