Fenótipo estendido

Por
A.Simas - (Ornitófilo)
“Fenótipo, do grego pheno, (evidente, brilhante), e typos, (característico) é empregado para designar as características apresentadas por um indivíduo, sejam elas morfológicas, fisiológicas, bioquímicas ou comportamentais.”
O fenótipo é aquilo que se vê: aspecto físico, constituição e aparência, e por extensão o comportamento e outras manifestações do gene, como o canto dos pássaros, formato do ninho, fertilidade, precocidade, produção de ovos, zelo pela prole etc. 

A herança genética de cada indivíduo, independente do tipo de animal e espécie, é única e se exterioriza, sofrendo e exercendo influência do e no ambiente.


Um exemplo notável da influência das espécies no meio ambiente, para não falar dos humanos e dos cupins, é o dos Castores (Castor canadensis), roedores que constroem diques, represando águas que acumulam detritos e matéria orgânica, além de destruir a flora e fauna existente.

Dique construido pelos Castores

Observa-se, na natureza, que os pássaros nidificam de forma diferente, conforme a espécie. Esta habilidade é transmitida pelos genes, em algum cromossoma ainda não identificado.

Quando se encontra um ninho feito de barro, sabe-se que é do pássaro João-de-Barro (Furnarius rufus). Seu ninho é uma extensão de seu fenótipo, pois só os pássaros desta espécie constroem o ninho desta forma, enquanto o Tecelão (Cacicus chrysopterus) faz excelentes trabalhos artesanais ao tecer seus ninhos.

Ninho de João-de-Barro (Furnarius rufus)

Ninhos de Tecelão (Ploceus cucullatus)

Outros sequer constroem ninhos, colocando seus ovos em ninhos alheios, como é o caso do Cuco (Cuculus canorus) e do Chopin (Molothrus bonariensis). Há canárias que seus ninhos são verdadeiras obras primas. Outras são um desastre.

O canário doméstico é incapaz de influir no ambiente, exceto pelos resíduos de alimentos e excrementos, que no caso são manipulados pelo humano. Eu, por exemplo, costumo usar as fezes dos canários como fertilizante nos vasos de plantas, que ficam lindas. Porém, o canário sofre muita influência do ambiente que afetam seu comportamento e aspectos fisiológicos, como a muda de penas que depende do regime de luz.

No que diz respeito à cor do canário, já se sabe muita coisa: fatores autossômicos, sexo-ligados, recessivos, dominantes etc. Mas, pouco se sabe sobre outros fatores extremamente importantes para quem cria canário como: fertilidade, cuidados com a prole, agressividade etc.

Sobre a transmissão do canto, uma pesquisa da Universidade de Maryland (EE.UU) revelou que o canto do canário é um cromossoma ligado ao sexo, semelhante à cor canela, ou seja, um macho de canto clássico, acasalado com qualquer canário produzirá fêmeas de canto clássico puras, e, neste caso, todos os filhotes machos serão portadores.

Sabe-se que um canário de topete é dominante e, quando acasalado com uma fêmea sem topete, há uma probabilidade de 50% de a prole ser de topete. Ao passo que um canário sem topete jamais terá filhotes com topete, salvo se acasalado com outro de topete, sendo, portanto, recessivo.

Na avicultura, especialmente na criação de galinhas, onde são feitos os maiores investimentos, várias pesquisas permitiram determinar que a aptidão para por ovos, maturidade sexual, choco e outros fatores são transmitidos pelo macho. Por extensão, acreditamos que essas conclusões também se apliquem na canaricultura, visto que os canários semelhantes às galinhas são igualmente do tipo “Abraxás”, isto é, o heterogameta ou cromossoma sexual está localizado na fêmea.

Já foi comprovado que o fator precocidade é dominante em relação à maturidade tardia que é recessivo, sendo um fator sexo-ligado (Hays-1924). Portanto, é o macho que transmite a precocidade. 

Como resultados de uma série de experiências realizadas, pesquisadores chegaram à conclusão que a maior responsável pela incubabilidade (taxa de eclosão) é a nutrição. A carência de vitaminas e sais minerais afeta a percentagem de nascimentos e de filhotes saudáveis. A alimentação dos reprodutores deve ter todos os elementos nutritivos necessários.

Descobriu-se também que nem todos os organismos que compartilhavam o mesmo genótipo eram idênticos fenotipicamente. O ambiente no qual o genótipo interage influencia fortemente na expressão de seus produtos, tornando-se uma variável chave na determinação fenotípica. Observa-se, por exemplo, que os canários de fator vermelho dependem de ingerir cantaxantina para expressar o exuberante vermelho em suas plumagens. Outro exemplo simples é a confecção do ninho pela canária; será de estopa, juta ou papel, dependendo do material disponível.

Mas ainda não se sabe se uma fêmea que não alimenta seus filhotes transmitirá este defeito à sua progênie ou se é o macho que determina isto, ou ambos? E as irmãs também não alimentam os filhotes? Será que a fêmea pode aprender a alimentar seus filhotes? Este comportamento poderá ser modificado por influência do ambiente? E, uma vez modificado, poderá ser transmitido geneticamente à prole? Chegamos ao ponto central da teoria de “O fenótipo estendido” de Richard Dawkins: “O comportamento de um animal tende a maximizar a sobrevivência dos genes para esse comportamento, aconteça desses genes estarem ou não presentes no corpo de um particular animal”.


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Fonte: Revista 3C - Nº 102 - Ano 2017 - Pág. 23 e 24.

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