Cores, cantos e R$ 1,7 bilhão em negóacios

Por
Luiz Ribeiro, Paulo Henrique Lobato e Paula Takahashi

Comércio de aves cresce no país. Alvo de contrabandistas, elas representam 90% dos espécimes apreendidos pelo Ibama. Valorização e mercado potencial para a venda atrai o interesse dos empresários

Arara-azul criada em parque na Grande BH. Vendida com
 autorização do Ibama, espécime chega a custar R$ 30 mil

Antes vista com certo receio pela forte relação com o comércio ilegal, a compra e venda de aves, principalmente pássaros, aos poucos está se transformando num negócio lucrativo. Segundo a Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros (Cobrap), o setor movimenta em torno de R$ 1,7 bilhão por ano no país e gera cerca de 120 mil empregos diretos. Mesmo com a forte atuação de contrabandistas, o comércio de pássaros e aves no Brasil promete alçar voos mais altos.

Ainda que nenhum estudo precise o real valor movimentado pelo tráfico de animais silvestres no planeta, especialistas estimam que este tipo de crime represente um mercado anual de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões no mundo, como revela relatório da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), uma das organizações sem fins lucrativos mais reconhecidas no assunto. A estimativa é de que o Brasil responda por cerca de 10% do valor movimentado no planeta. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informa que, do total de exemplares capturados nas operações contra venda ilegal de animais silvestres, 90% são aves. O contrabando é incentivado pelo alto valor de mercado dos bichos. No exterior, por exemplo, uma ararinha-azul chega a ser vendida por US$ 50 mil.

Atualmente o número de criadores amadores de pássaros regulamentados no país gira em torno de 500 mil, estima o presidente da Cobrap, Aloisio Pacini Tostes. Entre eles está Saulo Júnior Biscoto, criador que há mais de 20 anos se especializou nesse mercado e há 10 abriu a empresa Silkrock para comercialização de psitacídeos exóticos – não encontrados na fauna brasileira. Nos últimos seis anos, Saulo estima que este mercado cresça a uma média de 10% a 15% ao ano, puxado principalmente pelo interesse das pessoas em terem um pássaro como animal de estimação.

“Em 2010 vendi cerca de 180 unidades, enquanto em 2011 este número pulou para 200 a 220”, calcula. A forte demanda não é acompanhada pela oferta de filhotes, que, além de restrita, varia de acordo com a capacidade de reprodução de cada uma das espécies. Pelo menos 15 pessoas aguardam na fila por um papagaio-do-congo, que só começa a procriar depois dos cinco anos de vida. “A cada postura de ovos são gerados entre dois e três filhotes”, estima Saulo.

Por isso, não é de estranhar que alguns consumidores esperem mais de dois anos por um exemplar que não sai por menos de R$ 4 mil. “Pode chegar a até R$ 6 mil de acordo com a época”, afirma o criador. A espécie lóris é uma das preferidas entre aqueles que buscam um animal manso para criação doméstica. O preço de um exemplar pode variar entre R$ 1,2 mil e R$ 3 mil, de acordo com a complexidade de reprodução.


Parque

Os valores podem ultrapassar a casa dos R$ 10 mil, como é o caso da cacatua. No Parque Vale Verde a unidade da ave sai por R$ 11 mil, preço puxado pela dificuldade de formar casais da espécie aptos para reprodução, já que há registros de machos que, por conta da agressividade, acabam matando a fêmea. “O valor está muito ligado à dificuldade do criador em formar casais. Por conta disso, a venda de filhotes se resume a um por ano”, afirma a gerente geral da Vale Verde, Pollyanna Mendes.

No total, o parque vende entre 20 e 30 aves ao mês, volume que se concentra especialmente entre novembro e abril, quando os filhotes estão prontos para serem entregues. A atividade, porém, não chega a ser a principal do grupo, que ainda conta com um alambique para produção da cachaça de mesmo nome. “Nosso faturamento é de R$ 500 mil ao ano com a venda de aves. O criatório tem função mais voltada para preservação das espécies”, pondera Pollyanna. Entre elas, está a arara-azul, que, apesar de ainda não ser vendida, caminha para produção comercial. “Estamos na metade do percurso e ainda faltam pelo menos seis anos para que os animais estejam em fase de reprodução”, afirma. Quando estiverem prontos, podem custar até R$ 30 mil.


Investimento na criação

A criação comercial de pássaros atraiu o empresário Odeir Pimentel. Há sete anos, ele investiu cerca de R$ 250 mil em um criatório no Bairro Jaraguá, em Montes Claros. Atualmente ele conta com 320 pássaros em sua criação comercial, entre trinca-ferros, curiós, bicudos e exemplares da espécie tempera-viola. “Para montar o criatório comercial, tive que cumprir todas as normas do Ibama, que fiscaliza desde a montagem do projeto, a construção até a contratação de um veterinário”, revela o empresário. Entre as principais espécies de pássaros reproduzidas em cativeiro – e mais vendidas – estão trinca-ferro, curió, canário-da-terra, bicudo e, coleira. Os preços do exemplar variam entre R$ 300 e R$ 600. No entanto, um filhote de um campeão de concurso de canto é bem mais caro e pode valer até R$ 2 mil.


Criadores dizem que lei dificulta o comércio legal de aves

Os entraves da legislação estão entre os principais motivos para a exploração ilegal da atividade. O presidente da Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros (Cobrap), Aloisio Pacini Tostes, reclama que a formalização de novos negócios na área está travada no Brasil desde 2007, quando o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) exigiu que o Ibama fizesse uma relação das espécies silvestres que podem ser criadas e reproduzidas em cativeiro para fins comerciais. “Só que até hoje a lista não foi definida claramente e isso está provocando um tumulto na criação comercial”, pondera.

Em dezembro de 2011, o governo federal editou uma lei complementar que transfere para os estados o licenciamento para a atividade, reconhecendo e colocando o criador comercial de pássaros em condição semelhante à de outros produtores rurais. “Mas os estados ainda não têm condições de assumir a questão”, diz Tostes. Pelo menos 20 mil a 30 mil criadores aguardam uma definição da legislação para regularizar a atividade.

--
Fonte: Jornal Estado de Minas, Minas Gerais, 6 de fev. 2012. Caderno Econômico, p. 10.

Um comentário :

  1. queria ter um casal de trinca ferro legalizado como faço para obter esse casal onde poderia comprar sem ser contra a lei e quanto me custaria não sou criador nem nada queria só ter como faço

    ResponderExcluir