Prevenção de Doenças e os "Medicamentos Preventivos"

Por
Dr. César Garcia Capel Wenceslau 

Atualmente, sabe-se que a prática realizada por humanos de criar (manter e reproduzir) qualquer espécie animal está sustentada por quatro pilares fundamentais, que são: Nutrição, Sanidade, Genética e Manejo. Se algum destes pilares estiver deficiente, provavelmente o sucesso na criação não será conseguido de forma plena. Dentre estes pilares, a Sanidade se destaca justamente pelo fato de possibilitar a manutenção de animais saudáveis, propiciando desta forma a sua produtividade e longevidade. Dentre os conceitos que envolvem a Sanidade Animal, um conceito antigo já bastante conhecido é que “prevenir é melhor do que remediar”. Este conceito sugere que é mais fácil, rentável e produtivo trabalhar de forma a impedir que os animais fiquem doentes do que usar medicamentos em casos de enfermidades já instaladas. Entretanto, muitas vezes, criadores de aves ornamentais acabam por entender este conceito de forma distorcida.

Quando se trata de Prevenção, sugere-se que sejam adotadas medidas higiênico-sanitárias corretas para minimizar chances de que os animais fiquem doentes. Além da higiene propriamente dita, mantendo-se a limpeza rotineira do ambiente e utensílios de criação (gaiolas, comedouros, bebedouros, poleiros, ninhos, etc), medidas como a adoção de quarentena para animais recém adquiridos ou que retornam de exposições muitas vezes são negligenciadas por criadores, a acabam sendo uma grande porta de entrada para diversas doenças nos criadouros. Sabe-se que, idealmente, a quarentena deve ter uma série de aspectos técnicos de isolamento destes animais a serem respeitados que se forem levados à risca acabam a tornando praticamente inviável sua realização em criadouros de aves ornamentais. Entretanto, para a imensa maioria das doenças que freqüentemente trazem problemas e tiram o sono dos criadores, apenas a manutenção destas aves recém-chegadas em um ambiente anexo ao criadouro, porém separado de alguma forma (por exemplo: um pequeno banheiro ao lado do criadouro) já permite que sejam identificados os problemas.

Nos últimos anos, de forma cada vez mais freqüente, é possível notar que criadores estão confundindo o conceito de Prevenção (novamente: conceito que sugere a implementação de medidas higiênico-sanitárias para prevenir doenças), interpretando-o como “utilização de Medicamentos de forma indiscriminada para prevenir doenças” – doenças que, em muitos casos, são pré-existentes no plantel e seriam evitadas com medidas muito mais simples e baratas. A idéia de prevenir doenças advém do fato que, quando doente, um animal não tem plenas condições de desenvolvimento e reprodução, sendo necessária a utilização de medicamentos para que a doença seja tratada. A imensa maioria dos medicamentos, quando utilizados, interfere de alguma forma com o metabolismo do animal, e podem também trazer prejuízos ao organismo, especialmente quando se faz o uso indiscriminado destes fármacos sem a devida orientação, e em muitos casos como feito pelos criadores, usando-os em superdosagens.

Na farmacologia (ciência que estuda os medicamentos), existe uma expressão famosa que diz que “a diferença entre uma droga letal e um medicamento muitas vezes está na dosagem”. Existem inúmeros relatos de criadores que adicionam antibióticos, vermífugos ou anti-coccidianos aos alimentos ou água de suas aves de forma contínua, indiscriminada, sem orientação de um médico veterinário e sem nenhum tipo de critério, com doses muito maiores do que as recomendadas. Muitos criadores insistem em “usar medicamentos de forma preventiva”. Mas, afinal, se um criador vê a necessidade de usar medicamentos, será que os conjuntos de medidas higiênico-sanitárias (quarentena, limpeza de gaiolas e utensílios, temperatura, luminosidade, umidade e ventilação ambiente adequados, entre tantos outros) que impedem suas aves de ficarem doentes estão sendo efetivos? Não vemos pessoas tomando medicamentos anti-cancerígenos para “prevenir o aparecimento de tumores”. Também não vemos pessoas operando o ligamento cruzado do joelho para “prevenir lesões e rupturas de ligamento”. Então, por que usar medicamentos nas aves para “prevenir doenças”?

A adição de certos tipos de medicamentos de forma “preventiva” na água ou na ração é feita comercialmente na avicultura industrial, mas é realizada de forma extremamente criteriosa. Nestes casos, são utilizadas dosagens corretas, que foram determinadas em estudos científicos (na maioria dos casos, dosagens estas muito menores que as dosagens terapêuticas – que são as dosagens indicadas para casos de doença já instalados), utilizando-se medicamentos devidamente recomendados através de comprovações laboratoriais como sendo efetivos para tal finalidade, e sob orientação ou supervisão de médicos veterinários habilitados. Talvez daí venha esta idéia dos criadores de aves ornamentais, que insistem em “usar remédios preventivamente”, porém estes acabam esquecendo de todo o restante, que acaba sendo muito mais básico e fundamental para que se faça a Prevenção de Doenças de forma correta. Portanto, criadores, repensem o “uso preventivo de medicamentos”, afinal, se todas as outras medidas preventivas não forem adequadas e se o uso destes medicamentos for feito de maneira indiscriminada e incorreta, sem a supervisão de um médico veterinário habilitado, não se estará praticando a Prevenção de Doenças, e o resultado poderá ser ainda mais desapontador em relação à manutenção de um plantel saudável.

César Garcia Capel Wenceslau
Médico Veterinário (CRMV-SP 27.867) - Sócio CCCC n°167 – Criadouro Nova Geração.


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Fonte: SlideShare. Disponível em: http://pt.slideshare.net/Antonio_Silva/preveno-x. Acesso em 12 de dez. de 2013.

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