Ivomec: Mocinho? Vilão? Ou outra vítima de mau uso?

Por
Rodrigo Silva Miguel


O uso do Ivomec na criação de aves ornamentais começou como o de vários outros medicamentos, como antibióticos, anti-inflamatórios, etc.: com adaptações de fármacos produzidos para mamíferos como cães, bovinos e até mesmo humanos, ou da avicultura de produção, onde considerando-se os pesos das aves, as doses são altíssimas.

A rigor esta atitude não é condenável pelo fato de que naquela época e até mesmo hoje haver uma carência de medicamentos específicos para passeriformes. Essa prática pode e até deve continuar por facilitar o tratamento de nossas aves, porém, se algumas observações básicas não forem feitas, isso pode levar ao fracasso, o melhor plantel do mundo.


A ivermectina (Ivomec está no mercado desde 1981 e até hoje é um dos antiparasitários de maior sucesso no tratamento de endoparasitas (nematoides), ectoparasitas (ácaros e piolhos sugadores). Isto se deve por sua ação particular no sistema nervoso (GABA) dos parasitas, o que dificulta o aparecimento de resistências. Por essa capacidade de ação no sistema nervoso, começou-se a estudar uma possível ação, do fármaco no sistema nervoso dos hospedeiros (aves, bovinos, cães, etc.).
detectando-se alguns efeitos colaterais em algumas raças de cães e também em animais que receberam superdosagem. Esses efeitos colaterais variam de incoordenação motora e tremores transitórios, perda de fertilidade por algum tempo em mamíferos até mortes em alguns casos.

Devido à carência de estudos a respeito do uso e efeitos colaterais de ivermectina em aves, decidimos desenvolver um trabalho específico, em conjunto com o departamento de Farmacologia, Toxicologia e Patologia da USP, patrocinado pelo CNPq. Este trabalho ainda está em andamento sob os estudos da Dra. Camila G. Pontes (formanda da USP), e a cada nova fase, mais subsídios são somados aos resultados demonstrados a seguir:

Objetivos


A intenção de se tratar a ação e os possíveis efeitos colaterais da ivermectina em aves teve como principais objetivos confirmar a eficácia da dose recomendada no tratamento de endo e ectoparasitas, determinar os efeitos na reprodução (número de ovos, ovos brancos, morte embrionária e viabilidade de filhotes), além de fixar o que seria uma superdosagem prejudicial às aves.

Foram usados 36 casais de manons (Munia demonstica) em gaiolas separadas onde observou-se por 2 ninhadas os parâmetros reprodutivos acima indicados. Os dados foram anotados e logo após essas duas ninhadas. os casais foram divididos em quatro grupos para a administração da droga.

  • Grupo 1 - Controle injetado apenas propilenoglicol* (diluente)
  • Grupo 2 - Machos tratados com Ivomec
  • Grupo 3 - Fêmeas tratadas com Ivomec
  • Grupo 4 - Casal tratado com Ivomec

A aplicação foi feita na dose de 0,01 ml por kg de peso vivo (dose recomendada na literatura) por via intramuscular peitoral. Para conseguir um volume significativo para a aplicação houve necessidade de diluição do Ivomec em propilenoglicol. Observou-se a reprodução e na análise das ninhadas houve um aumento na produtividade (número de ovos e de filhotes) explicado pela desparasitação das aves.

A partir desta constatação começamos a aumentar as doses na ordem de 10 vezes para cada ninhada onde começaram a aparecer alterações reprodutivas como queda do número de ovos e/ou queda de fertilidade (ovos brancos).

Hoje o experimento continua e já está em uma dose bastante elevada sem apresentar sinais clínicos de efeitos nas aves, a não ser diminuição da reprodução.

  1. Confirmou-se a eficácia do Ivomec no tratamento de endo e ectoparasitas das aves ornamentais;
  2. Confirmou-se a dose recomendada e a ausência de efeitos colaterais tanto nas aves quanto na sua reprodução nessas condições;
  3. Confirmou-se o efeito prejudicial se usado em dose errada ou de forma continua;
  4. Em dosagens muito elevadas pode provocar convulsões, tremores, cegueira e até morte;
  5. É o medicamento de maior eficácia para o tratamento de ácaro de traqueia e com os resultados rápidos;
  6. Pela dificuldade de diluição a campo, foram feitas algumas adaptações como colocar uma gota de seringa de insulina na musculatura do peito, ou usar a formulação Pour-on (azul) pingando no bico ou na nuca da ave;
  7. Seguindo essas formas de administração, não se consegue atingir doses prejudiciais podendo ser usado com segurança tanto para a ave quanto para a sua reprodução;
  8. O único cuidado deve ser com a época e a freqüência de administração do Ivomec, que deve ser determinada pelo veterinário responsável pelo plantel de acordo com a espécie, época de reprodução e grau de parasitismo.

Considerações Finais


Esses dados foram extraídos de trabalho científico realizado por nós dentro da faculdade de Medicina Veterinária da USP e confirmados na prática em nossa criação situada no município de Batatais, São Paulo, onde tratamos diferenciadamente 3000 matrizes de 28 espécies de aves.

Revista Técnica Anual / junho 1998

Colaboração: Marcus Carpes – Ave Companheira

2 comentários :

  1. Eu uso ivomec carneiro no meu plantel (curiós)desde 1987 - de 6 em 6 meses e nunca tive problemas já usei na água de tomar banho e também borrifado mas o mais eficas foi duas gotas na nuca da ave tanto no macho quanto na fêmea no mínimo 15 dias antes da gala!

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  2. A aplicação n anuca da ave se de maneira pura do ivomec, ja usei desta forma em canarios, mas arranquei uma ou duas penas da coxa, pnguei uma gota pura do medicamento e massagiei o local para penetração n apele e na correntye sanguinea. o que voce acha?

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