Berne em Aves

Por 
Claudio Gonçalves

Berne ou dermatobiose é um estágio larval da mosca Dermatobia hominis, popularmente conhecida no Brasil como mosca-varejeira que infecta diversos animais de sangue quente, principalmente bois, carneiros, cavalos, cabritos, cães, porcos, búfalos e, não raramente os seres humanos e as aves. São larvas de moscas que se desenvolvem no tecido subcutâneo de animais em geral, sendo comum também o seu aparecimento em pessoas que vivem ou frequentam o campo.


Encontra-se distribuída desde o sul do México, na América Central, em algumas ilhas do Caribe (Antilhas Menores, Trinidad e Tobago) e em todos os países da América do Sul. O berne, uma vez presente nos animais causa a chamada miíase furuncular ou dermatobiose, que se caracteriza pela formação de abscessos subcutâneos, além de postura de ovos por outra mosca denominada mosca da bicheira (Cochliomyia hominivorax), o que determinaria o estabelecimento de uma miíase primária.


As moscas adultas, em geral não se alimentam, pois depois de nascerem logo fazem a cópula. As fêmeas da Dematobia hominis buscam abrigo em locais adequados onde compartilham a presença com insetos hematófagos. No abdome destes insetos hematófagos, fazem a postura de ovos durante o voo, colocando de 15 a 20 ovos em cada inseto hematófago e por volta de 400 a 800 em toda sua vida de cerca de 10 dias. Após mais ou menos 6 dias, os  ovos já estão maduros e eclodem.

No momento da picada do inseto hematófago (atraído pelo calor do hospedeiro), ocorre a saída das larvas dos ovos para a penetração na pele do animal. O berne fica com a parte respiratória voltada para face exterior da pele e com a boca para dentro. De 40 a 60 dias fica maduro e cai no solo, onde infiltra-se transformando-se em pupa. Em estágio pupar fica em média por 42 dias e depois sai para fazer novamente a cópula.


A extração do verme hospedeiro pode ser feita de várias formas, entre elas a asfixia do parasita, cortando o acesso de oxigênio. É comum o uso de um plástico sobre o local, a larva projeta sua cabeça para fora da pele do hospedeiro em busca de oxigênio, facilitando assim sua detecção e remoção. Em animais, recomenda-se em geral o uso de algum antiparasitário para facilitar a extração mecânica.

É difícil estabelecer normas para erradicar a Dermatobia hominis, pois haveria a necessidade de se controlar não só os hospedeiros domésticos, mas também os silvestres e os vetores. A esterilização química ou física seria a única possibilidade, ainda que em longo prazo.

Em relação ao controle biológico pode-se afirmar que ainda não foram encontrados métodos eficientes e aplicáveis na prática com bactérias, vírus, parasitas ou predadores naturais.

Aves silvestres também podem ser vítimas desse tipo de inseto, principalmente quando ainda filhotes. As aves ao tratarem seus filhotes ainda aninhados, acabam sempre por permitir que algum depósito de alimentos ou fezes fique alojado nas proximidades dos ninhos ou até mesmo no interior destes. Por mais asseadas que possam ser sempre algum resíduo alimentar acaba por se depositar ao fermentarem podem atrair algumas moscas e, por se tratarem de animais de sangue quente, também atraem alguns insetos hematófagos.

Obviamente que ao frequentarem os ninhos atraídos pelo calor corporal dos filhotes, esses insetos hematófagos já contaminados com ovos da Dematobia hominis , não hesitam em picá-los e, por consequência, promover o depósito das larvas dos ovos para a penetração na pele desses filhotes. Os pais ao saírem à busca de alimentos os deixam indefesos e à merce desses parasitas que não se atreveriam a invadir os ninhos quando da sua presença, pois assim serviriam-lhes de alimento. Essas larvas vão crescendo e deformando toda a pele dos filhotes, pois, o tamanho das larvas adultas mostra-se muitas vezes desproporcional ao tamanho dos filhotes das aves, o que não ocorre com animais de maior porte, tais como bois, cavalos e cães.

Neste caso especifico, observa-se uma aspecto que realmente impressiona bastante e, não raras as vezes, ocasiona a morte de alguns filhotes, dependendo do número de larvas e do local da ave onde se encontram depositadas e em desenvolvimento.

Conforme demonstram o vídeo deste artigo, os bernes observados foram depositados em ninho de Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e observaram-se até oito bernes em uma ave. Neste caso trata-se de aves de porte diminuto e, com certeza se não fossem removidas algumas das larvas já em estágio bastante adiantado e localizadas na cabeça próxima ao olho e pescoço certamente essas aves poderiam ficar com sequelas irreparáveis ou até mesmo entrar em óbito ainda no ninho.


A remoção das larvas foi feita com uma pequena pinça e, obviamente que a remoção dessas larvas através do uso pinças deve ser feita com muito cuidado e destreza, sem possibilitar que fique algum pedaço da larva no interior da ave ou até mesmo que esta venha morrer no interior da ave sem ser removida, pois nesses casos, haverá a necrose do local certamente um quadro infeccioso mais grave formará.

O controle desta mosca se faz quase que exclusivamente por meio de produtos químicos, visando o estágio larval (berne) que se realiza no hospedeiro, ocasião em que a maior parte dos danos já não tem mais como ser revertida. Este controle diminui os prejuízos da produção porem, pode deixar resíduos no animal e no ambiente.

Os prejuízos no couro e na pele dos animais persistem pelas sequelas deixadas. A aplicação dos produtos químicos é realizada por meio de banhos de aspersão, dorsal, nas formas parenteral, subcutânea ou oral.

Atualmente, entre os inseticidas mais usados estão os organofosforados, as salicilanilidas, as avermectinas (endectocidas), os piretróides e outros, entretanto os resultados obtidos nem sempre são satisfatórios, devido às variações e peculiaridades de cada propriedade.

Para se ter melhor resultado, o produto deve ser aplicado em forma estratégica e racional. A aplicação deve ser feita, nos animais de maior porte (bois, cavalos, cães, ovelhas, porcos, etc...), ao início da estação chuvosa (setembro/outubro), seguindo mais dois tratamentos com intervalos de 21 dias. O tratamento ao berne se associado ao tratamento de outras parasitoses, neste caso utilizar produtos que tenham ação sobre os diversos parasitas ao mesmo tempo, observando as recomendações de tratamentos para cada um. No caso de aves silvestres não há muito que fazer a não ser a tentativa de controle desses parasitas nas propriedade onde se encontram os seus ninhos e não diretamente nas mesmas.


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Fonte: Revista Brasil Ornitológico - Ano XIX - nº79 - Mai - Jun - Jul 2010 - Pág. 14 e 15

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