Por
Camila S. Machado
Médica Veterinária
CRMV-RS 10773
Não existe um conceito único que explique ou defina com perfeição a abrangência das alterações fisiológicas provocadas pelo estresse, mas por conceito tal termo significa “ruptura da homeostase”. Em que a homeostase é definida como sendo o estado de equilíbrio fisiológico.
Porém o ponto fundamental a ser compreendido é que o estresse consiste em um fenômeno adaptativo de interação entre o animal e o ambiente.
E assim, diante das mudanças ambientais sejam elas drásticas, repentinas ou gradativas as aves sofrem os efeitos do estresse.
A intensidade e a duração do estímulo estressante é que determinarão o tipo de resposta do organismo animal, e com qual gravidade tal resposta vai se apresentar, podendo esta ser de caráter agudo ou crônico. Desta maneira tem se que cada estímulo aciona-se uma resposta que possui um valor adaptativo, ou seja, o animal exposto a nova situação poderá ou não se adaptar, conforme a recuperação da homeostase orgânica.
A resposta aguda geralmente está representada pela resposta de luta ou fuga, envolvendo como fator principal a descarga dos hormônios adrenalina e noradrenalina, que dentre outros efeitos é responsável pelo aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, midríase (dilatação da pupila), broncodilatação, aumento da glicemia e da taxa de metabolismo.
O maior problema médico relacionado com a reação de alarme resulta do traumatismo que ocorre com animais na tentativa de fuga. Lesões como lacerações, hematomas e fraturas, podem surgir como consequências de métodos inadequados de contenção e de recintos ou gaiolas mal planejadas.
A liberação intensa e contínua de adrenalina e noradrenalina aliada ao esforço físico excessivo podem levar a morte do animal por choque devido ao colapso circulatório, entretanto em situações naturais a liberação de tais hormônios capacita o organismo animal à ação de predar ou defender-se, sendo então benéfico nesses casos.
Na manifestação crônica do estresse existe a ocorrência de alterações ambientais de maneira mais ampla, como no caso de animais em cativeiro. Assim, qualquer alteração ambiental que se atenha por períodos prolongados ocasionam o estresse de forma crônica.
Contudo as resposta do organismo frente às alterações crônicas são mais difíceis de serem notadas, variando em intensidade conforme a espécie e o indivíduo. O principal hormônio envolvido nesse caso é o cortisol que possui ação anti-inflamatória e proporciona ao organismo condições de superar alterações ambientais, principalmente por aumentar a disponibilidade de glicose, protegendo membranas celulares, facilitando a circulação sanguínea capilar e influenciado o limiar de dor.
Entretanto a liberação contínua de cortisol ocasiona alterações orgânicas que levam a respostas metabólicas adversas. Por exemplo, em animais submetidos a agentes estressantes por longos períodos observa-se fraqueza muscular, tremores, perda de peso, imunodepressão, e com isso maior suscetibilidade a adquirir doenças, má cicatrização, além também de alterações psico comportamentais tais como automutilação e hiper ou hipossexualidade, entre outros.
Diversos são os agentes chamados estressantes que desencadearão as respostas orgânicas, sendo os mesmos classificados como: agentes somáticos = representados por ruídos, imagens e odores estranhos, calor, frio, pressão, estiramento anormal de músculos e tendões, drogas e agentes químicos; agentes psicológicos = representados por apreensão, evoluindo para ansiedade, medo, terror ou fúria e frustração. Sendo os mesmos resultantes da impossibilidade de reagir de acordo com o comportamento normal da espécie durante a contenção, por exemplo; agentes comportamentais = relacionados com agentes psicológicos tais como superpopulação, disputas territoriais e/ou hierárquicas, alteração no ritmo biológico, falta de alimentos usuais a espécie, falta de estímulos sociais naturais e proximidade com animais de espécies antagônicas; outros agentes = representados por nutrição inadequada, confinamento prolongado, agentes infecciosos, parasitas, queimaduras, cirurgias, imobilizações físicas, química e toxinas.
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Fonte: Revista Brasil Ornitológico Ano XXV - nº 101 - Pág. 17.
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