Dr. André Bohrer Marques
Fontes ecológicas de seleção das vocalizações
A distância na qual uma ave é capaz de se comunicar por meio de sons depende da taxa de atenuação do som usado, da amplitude do som na fonte, do nível de barulho de fundo do ambiente e da sensibilidade auditiva do indivíduo receptor (Morton, 1975). Os sons e sinalizações a longa distância são transmitidos através do ambiente. Este fato conduz a uma seleção das propriedades físicas para aumentar sua propagação (Morton, 1977).
De um modo geral, pode-se dizer que são três os fatores que promovem seleção das características do canto nas aves:
A distância na qual uma ave é capaz de se comunicar por meio de sons depende da taxa de atenuação do som usado, da amplitude do som na fonte, do nível de barulho de fundo do ambiente e da sensibilidade auditiva do indivíduo receptor (Morton, 1975). Os sons e sinalizações a longa distância são transmitidos através do ambiente. Este fato conduz a uma seleção das propriedades físicas para aumentar sua propagação (Morton, 1977).
De um modo geral, pode-se dizer que são três os fatores que promovem seleção das características do canto nas aves:
- Fatores relacionados com a morfologia do animal;
- Fatores relacionados com o ambiente(hábitat);
- Fatores relacionados com o contexto onde ocorre o canto.
1 – Fatores relacionados com a morfologia do animal: Dos fatores morfológicos que afetam a estrutura do canto o mais evidente é o tamanho do corpo, que está inversamente proporcional a frequência da vocalização. Isto se deve à pressão de propagação do som, que é dependente do quanto a membrana vibratória (responsável pela produção do som) pode mover do volume do meio (ar). Pequenos animais podem mover apenas pequenos volumes do meio, dificultando a produção de sons com altas amplitudes, e eliminando o animal a vocalizar somente sons com comprimento de onda curta e alta frequência. Portanto, pode-se afirmar de que quanto maior é o tamanho corporal menor é a frequência acústica, ou maior é sua amplitude (Bradbury Vehrencamp, 1998).
Teoricamente, numa luta entre dois indivíduos da mesma espécie, a pressão de seleção geralmente favorecerá o aumento de tamanho. Obviamente, até atingir um tamanho ótimo pra o balanço entre custo energético para manutenção corporal e sucesso reprodutivo, a luta entre dois indivíduos sempre representa grande risco, além de grande custo energético para ambos. Com os indivíduos maiores geralmente vencem os combates, a seleção favorece a produção de vocalizações que refletem o tamanho do emissor. Sendo assim, a vocalização substitui a luta, principalmente quando os sinais refletem o tamanho corporal deste emissor e o receptor percebe que não terá nenhuma chance de vencer (Owings e Morton, 1998).
2 – Fatores relacionados com o ambiente (hábitat): No ambiente natural a mensagem comunicação sonora pode perder sua função através da atenuação e da degradação que o hábitat exerce sobre a propagação das ondas sonoras. Desta forma, devido à diferença de hábitat (por exemplo, campos e florestas) ocorrem evoluções o pra diferentes padrões de canto de uma mesma espécie de pássaro. Um dos primeiros pesquisadores a estudar em detalhe o modo como a estrutura do hábitat afeta a transmissão de sinais, foi Morton (1975 e 1977). Ele mostrou como a estrutura do canto das aves esta correlacionada com o hábitat. Verificou que os cantos das espécies que vivem abaixo da copa das florestas tropicais possuíam como característica principal: frequência mais baixa, menor variação de frequência e maior proporção de tons puros e os cantos das aves campestres apresentavam em comum uma modulação rápida e forte, sendo que o espectro das frequências era tanto mais amplo quanto mais aberto o espaço do hábitat.
Esta evolução deve-se às diferenças entre os hábitats, onde, temos como padrão geral o seguinte: nas florestas, as maiores fontes de degradação são os ecos ou reverberações provocado pelas folhas ou galhos (atingindo mais as frequências altas), enquanto que, em hábitats abertos são as flutuações irregulares de amplitude, causadas por rajadas de vento que mascaram o canto. Morton (1975) deduz que em espécies de espaços abertos a seleção provavelmente favorece a codificação da informação baseada nos componentes temporais dos sinais sonoros devido ao padrão temporal permanecer quase inalterado, providenciando assim, um meio mais eficiente para a comunicação. Outros estudos posteriores comprovam a variação geográfica do dialeto de uma espécie relacionando com o tipo de habitat (Nottebohm, 1975; Avelino e Vielliard, 2004; Mathevon et al. , 2004; Slabbekoorn e Boer-Visser. 2006). No estudo realizado por Nottebohm (1975), por exemplo, foi demonstrada a diferença existente entre o canto dos Tico-ticos (Zonotrichia capensis) que vivem nos campos e nas florestas.
Segundo a hipótese de Morton, os cantos seriam modelados para atingir a maior distancia possível e as diferenças entre os hábitats estariam relacionadas a diferenças de atenuação e degradação de sons, sugerindo que os cantos estão sintonizados na “janela de frequência” de mínima atenuação de cada hábitat. Ou seja, sintonizados na frequência em que as propriedades de propagação sonora do canto irão sofrer menor atenuação do ambiente.
A comunidade cientifica tem investigado os impactos que os mais variados hábitats provocam nas formas de sinais de comunicação dos animais. Entretanto, no hábitat urbano quase não existem trabalhos, sendo esta, uma linha de pesquisa recente com imensa potencialidade, principalmente porque estes hábitats estão há décadas em franca expansão geográfica. Em comparação entre populações urbanas e florestais de Parus major, realizada por Slabbekoorn e Boer-Visser (2006), diferenças importantes foram verificadas. Dentre elas destacam-se que os cantos dos pássaros urbanos mostram ser temporalmente diferentes, pois eram mais curtos na duração e nos intervalos entre as notas, quando comparados com os cantos dos florestais. Outra diferença interessante é que a primeira nota da frase (canto) dos urbanos, apenas a primeira e nenhuma outra, era significativa mais curta que a dos florestais. E também verificam que a frequência mínima do canto dos pássaros urbanos era menor quando comparados com os silvestres. Estes são exemplos claros de adaptações do sinal acústico às restrições impostas pelo ambiente.
Estas diferenças entre cantos urbanos e florestais podem em parte estar ligados aos barulhos e ruídos urbanos que interferem no aprendizado do pássaro. No caso particular do Parus major, a sua grande flexibilidade comportamental pode ter tido papel fundamental em sua sobrevivência no meio urbano (Slabbekoorn e Boer-Viesser, 2006).
Outra linha de pesquisa em bioacústica envolvendo sinais de longo alcance são as pesquisas realizadas buscando evidenciar que o receptor consegue mensurar a distância do emissor em função do nível de degradação do sinal sonoro. Podendo desta maneira determinar se emissor estaria longe ou perto de seu território, avaliando posteriormente se há necessidade de defende-lo do invasor (Naguib et al., 2000; Nelson 2000; Brumm, 2004).
A comunidade cientifica tem investigado os impactos que os mais variados hábitats provocam nas formas de sinais de comunicação dos animais. Entretanto, no hábitat urbano quase não existem trabalhos, sendo esta, uma linha de pesquisa recente com imensa potencialidade, principalmente porque estes hábitats estão há décadas em franca expansão geográfica. Em comparação entre populações urbanas e florestais de Parus major, realizada por Slabbekoorn e Boer-Visser (2006), diferenças importantes foram verificadas. Dentre elas destacam-se que os cantos dos pássaros urbanos mostram ser temporalmente diferentes, pois eram mais curtos na duração e nos intervalos entre as notas, quando comparados com os cantos dos florestais. Outra diferença interessante é que a primeira nota da frase (canto) dos urbanos, apenas a primeira e nenhuma outra, era significativa mais curta que a dos florestais. E também verificam que a frequência mínima do canto dos pássaros urbanos era menor quando comparados com os silvestres. Estes são exemplos claros de adaptações do sinal acústico às restrições impostas pelo ambiente.
Estas diferenças entre cantos urbanos e florestais podem em parte estar ligados aos barulhos e ruídos urbanos que interferem no aprendizado do pássaro. No caso particular do Parus major, a sua grande flexibilidade comportamental pode ter tido papel fundamental em sua sobrevivência no meio urbano (Slabbekoorn e Boer-Viesser, 2006).
Outra linha de pesquisa em bioacústica envolvendo sinais de longo alcance são as pesquisas realizadas buscando evidenciar que o receptor consegue mensurar a distância do emissor em função do nível de degradação do sinal sonoro. Podendo desta maneira determinar se emissor estaria longe ou perto de seu território, avaliando posteriormente se há necessidade de defende-lo do invasor (Naguib et al., 2000; Nelson 2000; Brumm, 2004).
3 – Fatores relacionados com o contexto comportamental: Para aumentar a carga informática do canto, algumas espécies de aves desenvolvem mais de um tipo individual de canto. Cada tipo de canto corresponde a um canto funcional. Mas, parece que cada um desses cantos corresponde um contexto comportamental particular. Desta maneira, a espécie pode transmitir, alem da sua identificação especifica e populacional, uma informação sobre seu estado comportamental e fisiológico (Vielliard, 2005; Hauser, 1996).
Um exemplo claro desta situação é o canto denominado popularmente “canto de guerra”, vocalização que é diferente da encontrada no canto “costumeiro”, sendo que este canto é emitido sempre em um confronto com outro macho, demonstrando sua agressividade. Sick (2003) citou a presença deste canto ao comentar sobre a vocalização das subfamílias Emberizinae e Cardinalinae, canto este que foi denominado por ele como “canto de briga”.
Um exemplo claro desta situação é o canto denominado popularmente “canto de guerra”, vocalização que é diferente da encontrada no canto “costumeiro”, sendo que este canto é emitido sempre em um confronto com outro macho, demonstrando sua agressividade. Sick (2003) citou a presença deste canto ao comentar sobre a vocalização das subfamílias Emberizinae e Cardinalinae, canto este que foi denominado por ele como “canto de briga”.
Na próxima edição, continuaremos abordando esse assunto.
Fonte: Atualidades Ornitológicas Nº 146 - Janeiro/Fevereiro 2009
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