Saltator similis – O atleta alado

Por
Renan Cabral Cevarolli



Bom galera, para quem não me conhece, sou o Médico Veterinário Renan Cabral Cevarolli, CRMV-RJ 11092, Especializado em medicina de animais selvagens e que tem a honra de dar assistência a boa parte dos campeões de fibra, principalmente do Rio de Janeiro.

Hoje quero abordar um tema badalado, porém de uma forma diferente do que a grande maioria de artigos traz, com relação ao manejo de Trinca-ferro. Antes de qualquer coisa, devemos saber quem é esse pássaro que tem fascinado tanto os admiradores de passeriformes principalmente do Brasil, mas também com fãs em outros países da América do Sul como Argentina, Paraguai e Uruguai.

O trinca-ferro-verdadeiro é um passeriforme da família Thraupidae; pasmem, a mesma dos sanhaços, saíras, furriéis e tiês. Mais especificamente do gênero Saltator, todas as oito espécies deste gênero existentes no Brasil suavemente parecidas, diferenciando-se mais, apenas, os bicos-de-pimenta.

Na natureza, o pixarro, como também é conhecido, é um típico onívoro, se alimentando de insetos, frutos, sementes, brotos e flores. O mais importante nesta questão de alimentação é que com a variação das estações do ano, o trinca ferro muda o hábito alimentar, como uma lei de oferta, onde em certos períodos, tem-se a disponibilidade de comer mais insetos e ou frutos que em outra, visto que um bioma é dinâmico. Há um ciclo natural a ser respeitado na natureza, que o homem, inconscientemente ou não, estraga.

Desta forma, há períodos do ano que certamente ele comerá mais proteínas do que em outras, mais lipídeos do que em outras, mais vitaminas do que em outras. Devemos saber que este tipo de ave é fotoperíodo positivo, ou seja, quando há mais luz no dia (primavera e verão) eles produzem mais hormônios e ficam aptos a reprodução.

Chegamos ao ponto. Qual a finalidade do canto? Reprodução! Mas como assim? Como todos os passeriformes de fibra, eles cantam para marcação de território e corte das fêmeas. Uma informação mais técnica é que a testosterona é derivada do colesterol, este estará mais presente na dieta dos trincas no verão, pois é quando teremos mais chuvas e temperatura adequada para a reprodução dos insetos na natureza, fonte natural de colesterol para os alados. 

É um fato que em gaiola, não se tem o hábito de mudar a alimentação conforme a época do ano. Onde a maioria dos ditos criadores, sem orientação técnica adequada, oferece a mesma alimentação de base durante todo o ano incluindo as larvas de tenébrio rotineiramente, sem saber o que de fato elas contém e quais os benefícios e malefícios que estas causam.

Um trinca ferro filhote em desenvolvimento, deve comer quase 100% de sua dieta de animal. Mas qual animal? Apenas larvas? Pensem comigo, uma larva de Tenébrio é muito calórica, pois na fase de pupa, a qual ela ainda vai passar, ela não se alimenta, precisando muito de reserva energética até virar besouro. Elas têm mais lipídeos e os nossos filhotes precisam de mais proteína. Lembrando que na natureza eles comem muito mais insetos que voam, e estes na maioria das vezes já estão nas fases adultas, não necessitando assim de ter tanta gordura no corpo e sim proteína nos pequenos músculos que farão com que batam as asas.

Observando um trinca em um torneio, vemos um pássaro sanguíneo, que fica muitas vezes até quatro horas disputando canto e cercando o adversário com intuito de defender seu território. Eles precisam de preparo físico e um atleta de alta performance, não pode se dar ao luxo de cometer excessos.

Na voadeira onde deve morar, necessariamente devemos diminuir a monotonia com enriquecimento ambiental. Quando falo de enriquecimento ambiental, não é para colocar brinquedinhos na gaiola, mas poleiros inclinados e de diferentes espessuras, fazendo com que eles usem grupamentos musculares diferentes dos habituais; trocar sempre a posição do alimento e água; dar banhos de sol e adequar o ambiente onde o animal mora. Principalmente quanto à segurança do animal, claridade e conforto. Alguém acha que passarinho solto procura poleiro retinho para pousar? Eles bebem água até de cabeça para baixo!

Pássaros que sofrem de monotonia são estressados, e o estresse faz com que aumente o nível de cortisol na circulação sanguínea, que baixará a sua imunidade, o tornando mais susceptíveis a doenças infecciosas, parasitárias e comportamentais, como a automutilação.

Em resumo, com a tecnologia, podemos no mínimo oferecer uma ração extrusada de base durante todo o ano, com proteína por volta de 16% e aumentar o nível de proteína na época de reprodução, enriquecendo com uma farinhada com nível de proteína maior, de até 25%.

O resultado de um torneio de fibra depende de uma série de fatores, inclusive de você criador. Com estas dicas e tendo um veterinário especializado ao seu lado, para cuidar da saúde do seu plantel, os prêmios e os sorrisos virão, e o trabalho será recompensado. Boa sorte!


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Renan Cevarolli - Assessoria Veterinária
(21)7855-3016 / (21)9996-6112

5 comentários :

  1. artigo de ótima qualidade, abrange tanto a biologia da ave como a interação dela no habitat e no ambiente doméstico, a parte técnica sobre a diferença do valor nutricional da alimentação da ave na natureza e na gaiola achei muito interessante.
    gosto de aves, não tenho trinca-ferro, mas acompanho sempre as publicações, onde a cada texto trás novas informações e curiosidades.

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  2. Parabéns, pela matéria.
    Eu este ano de 2013 consegui uma grande evolução com um passáro, fazendo justamente isso banhos de sol, passeios, locais variados, frutas com ramagens, entre outros.

    Wilson Silva

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  3. Parabéns Doutor. Adoro esses artigos. Tento criar mas meus filhotes sempre morrem no quinto ou sexto dia. Será temperatura?

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  4. De coração acredito que não...você deve estar errando no manejo e favorecendo infecções oportunistas.

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  5. Dr. Tenho um casal, porém a fêmea nao deixa ele cruzar nunca. O que eu faço? Ja tentei outros trincas mas ela só faz gala falsa.

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