Bursa Fabrícius - O que é e qual sua função

Por
Igor Magno de Ana Oliveira


A Bursa de Fabricius é uma bolsa localizada na região do proctodeu, na cloaca da ave. Foi descrita por Hieronymus Fabricius no século XVII, mas a sua função foi compreendida apenas no século XX, quando o estudante T.S Chang descobriu que as aves jovens que tinham a Bursa, cirurgicamente retiradas, apresentavam uma falência na produção de anticorpos quando expostas aos micro-organismos, no caso a Salmonella Spp..

O formato da Bursa varia de oval a esférico, dependendo de cada espécie, e o número de dobras no lúmen do órgão depende da idade e da condição fisiológica da ave.

A Bursa possui uma porção medular e uma cortical, com aproximadamente 12.000 folículos. Cada folículo possui cerca de 400.000 células, dentre elas, linfócitos B, células dendríticas, macrófagos e células epiteliais.

A função da Bursa de Fabrícius é maturar e diferenciar as células B, que são chamadas assim devido à primeira letra da palavra Bursa. As células B são responsáveis produção de anticorpos e podem se diferenciar em plasmócitos, que migram para o sistema circulatório para produzir anticorpos, e também se ligar aos micro-organismos, deixando-os expostos para a sua destruição pelos fagócitos, ou em células de memória, que possuem longa vida, capazes de responder a uma segunda infecção a um determinado patógeno.

As células B passam por três estágios de maturação e diferenciação. O primeiro estágio ocorre nas fases finais do desenvolvimento do embrião, onde as células-tronco estão se preparando para formar as células linfoides, mas ainda não são capazes de formar anticorpos ativos, e termina nos primeiros dias após eclosão do ovo. O segundo estágio ocorre entre a 3ª e a 6ª semana de idade, os quais já aparecem células jovens capazes de produzir anticorpos ativos. O terceiro estágio começa após sete semanas, onde as células da Bursa não são mais capazes de se restaurar, nem produzir anticorpos, ocorrendo uma regressão da mesma.

A Bursa cresce rapidamente durante as três primeiras semanas de idade da ave, atinge um platô entre a terceira e oitava semana e depois regride. O peso da Bursa é diretamente proporcional com a quantidade de células ativas, que pode ser influenciada por substâncias humorais ou fatores exógenos.  Por exemplo, altas doses de testosterona podem causar um regressão da bursa, ao passo que baixas doses de testosterona podem estimular seu crescimento, ou seja, a Bursa regride de acordo com o desenvolvimento sexual da ave.

Na prática, aves jovens que estão nessa fase de transição quando ocorre a involução da Bursa (perdendo atividade de proteção) acabam ficando mais susceptíveis a infecções banais que não iriam trazer prejuízo para aves adultas ou aves jovens que ainda possuem esse órgão em plena atividade. 

Algumas dessas infecções Podem ser citadas com fúngicas (aspergilose), bacterianas (salmonelose e colibacilose) e parasitárias (coccidiose), nessa fase da vida dessas aves jovens podem ser devastadoras.

Na clínica veterinária é muito comum atender aves nessa fase de vida que apresentam enfraquecimento por alguma infecção instalada, muitas vezes transmitida pelos próprios pais e/ou outras aves adultas do plantel que não apresentam sintoma algum e aparentemente gozam da mais perfeita saúde, mas na verdade são portadores sadios de alguma doença que está afligindo esses filhotes nessa delicada fase de transição onde o organismo os obriga a ficarem expostos a agentes infecciosos com menor ou nenhum auxílio desse órgão que outrora estaria conferindo a imunidade passiva. Esse fenômeno é natural semelhante à imunidade passiva conferida pelo colostro materno nos primeiros momentos de vida dos mamíferos.

Esse episódio ocorre para que o animal entre em contato com esses agentes e produza sua própria imunidade sem auxílio da Bursa.

Logo um manejo adequado de higiene do ambiente, climatização para filhotes (28ºC e umidade relativa 65%), alimentação adequada com utilização de nutracêuticos e probióticos, e exames de rotina do plantel antes e após a criação, podem evitar a mortalidade desses filhotes nessa tênue passagem para puberdade e vida adulta.


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Fonte: Revista Passarinheiros&Cia - Nº 80 Ano XIV - Págs. 34 a 35.

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